segunda-feira, novembro 13, 2006

2 comentários:

Trolha disse...

A arte de ser feliz


Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.

Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.

E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas.

Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.

Borboletas brancas, duas a
duas, como refelectidas no espelho do ar.

Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.

E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

Trolha disse...

Parabéns pelo desenho.

Ainda vais ser uma pintora famosa. Acredita. Palavra de trolha.