quinta-feira, novembro 16, 2006



O Outono



O Outono é a estação do ano que prefiro. É um período que, do ponto de vista simbólico, associo ao tempo de fazer balanço. Sendo o Inverno uma espécie de morte da Natureza, é no Outono que os efeitos da tremenda sensualidade da Primavera e os excessos do tórrido Estio devem ser pesados e avaliados. É uma espécie de Idade Dourada do ano, e não é por acaso que as cores outonais são, neste nosso hemisfério, ouro e cobre, propícios à meditação interior. Vivemos todos um tempo caracterizado pela mais incrível das velocidades. em que não só a síntese da nossa contemporaneidade se torna quase impossível, como a possibilidade de nos fecharmos em nós mesmos e de nos vermos tal qual somos é raríssima. O Outono é uma espécie de instrumento que os "Deuses" colocaram à nossa humana disposição para que entremos na névoa íntima e densa da nossa própria consciência e nos deixemos levar numa espiral de reflexão, que nos prepara para a morte invernal e nos cria condições para um renascer purificado e enérgico na Primavera que se segue. Arranjarmos tempo, mesmo que tenhamos que lutar arduamente com esse mesmo tempo, para nos reposicionarmos perante nós próximos e perante os outros é uma necessidade vital. Meditarmos sobre o que efectivamente somos, sobre o que queremos que os outros achem de nós e - sobretudo - sobre o que queremos ser, não é um luxo, mas sim uma condição sine qua non para que possamos viver em verdade e em paz. Não há paz sem verdade nem verdade sem paz . Encontrando o concreto do nosso eu, aferidas com rigor todas as nossas fraquezas e forças, as nossas qualidades e defeitos, as nossas mínguas e os nossos excessos, definido com clareza o possível para as nossas circunstâncias, somos então capazes de olhar para a Vida sem qualquer dúvida sobre o nosso papel na mesma e caminhar com passos seguros em direcção ao amanhã.

Artigo de opinião de Mário Nuno Neves
publicado no Jornal Primeira Mão de 13 de Outubro de 2006








1 comentário:

étoile disse...

Mal se consegue ler...já sei.
Amanhã rearranjo. Desculpem.