sábado, janeiro 13, 2007


A vida

Olho-me ao espelho
Todos os dias.
Prolongo esse olhar
pensando na vida.
Numa vida sem norte
sem rumo e sem sentidos.
Por vezes, penso na morte e,
em como ela é, por vezes, apelativa,
pela paz que parece prometer.

São os retalhos que sobraram.
pedaços de momentos e memórias,
que ora se avivam ora se esbatem,
que alimentam uma luta interior permanente

Às vezes parece-me
que já consigo erguer-me
e subir alguns degraus.
Outras,
Sinto saudades da voz,
do cheiro da pele e do sexo.
E volto a cair num negrume,
onde não se vislumbra qualquer luz.

Dizem-me que complico.
Que a vida é mais simples.
Tão simples como a água e
que, tal como ela
nos podemos adaptar
e tomar várias formas.

Mas o eco do passado
Persegue-me.
Não me larga.
Falta-me a coragem,
a determinação, a audácia
para seguir em frente.

Estagnei.
Não consigo mover-me
Sinto-me uma pedra
parada no tempo.

Incapaz de gestos
Incapaz de preparar
uma simples chávena de café.
Incapaz de pegar nos pincéis
e criar algo,como fazia
e colorir uma tela
com cores vivas e alegres,
como a vida deveria ser.

Feito a partir de um desafio
Pintura: Picasso - Menina Diante do Espelho (1932)

2 comentários:

Trolha disse...

Bonito, «malgré tout».
Vê-se que é sentido. E em poesia só isso importa.
Dás a conhecer vivências, sensações e recordações.
Bonito.

étoile disse...

Não está gd coisa. Foi feito c restrições ou imposições, pois foi uma resposta a um desafio com certas imposições.