quarta-feira, maio 02, 2007


"BEATICE HIPÓCRITA

Philip Roth, A Mancha Humana, excerto:



O Verão de 98 [...] foi caracterizado por um enorme regabofe de devoção, um regabofe de virtude, quando ao terrorismo, que destronara o comunismo como ameaça predominante à segurança do país, sucedeu o brochismo e um presidente viril, vigoroso e de meia-idade e uma impetuosa e enfeitiçada funcionária de 21 anos, desaforados no Salão Oval como dois putos adolescentes num parque de estacionamento, ressuscitaram a mais antiga paixão comunal da América, historicamente talvez, até, o seu prazer mais pérfido e subversivo: o êxtase da beatice hipócrita. [...] Foi o Verão em que, pela milésima milionésima vez, a bagunça, o caos e a confusão demonstraram ser mais subtis do que a ideologia deste e a moralidade daquele. Foi o Verão em que o pénis de um presidente esteve na cabeça de toda a gente e a vida, em toda a sua despudorada obscenidade, confundiu uma vez mais a América. [Trad. Fernanda Pinto Rodrigues, Dom Quixote, 2004]

Se trocar pénis por diploma percebe o ponto do farisaísmo galopante."

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