Este post de João Paulo Sousa está genial!!
O menino menos zeloso
– Professora, eu não consigo perceber por que motivo tenho menos um valor do que o Rui. Afinal, tivemos exactamente os mesmos resultados nos testes, nos trabalhos e na participação…
– Professora, eu não consigo perceber por que motivo tenho menos um valor do que o Rui. Afinal, tivemos exactamente os mesmos resultados nos testes, nos trabalhos e na participação…
– Mas não na assiduidade, Jorge. O Rui nunca faltou e o Jorge tem cinco faltas.
– Justificadas, professora, todas justificadas. Faltei dois dias pela morte do meu avô e os outros três porque torci um pé na aula de Educação Física. O médico obrigou‑me a descansar três dias, até me passou um atestado…
– Não me interessa. Se tivesse ouvido o meu superior hierárquico, o Secretário de Estado, como eu ouvi, saberia muito bem que o importante é ter faltado, não interessam as razões, não interessa quem morreu, nem se torceu o pé ou partiu a perna ou entortou o pescoço. As palavras do meu superior hierárquico, o Secretário de Estado, que eu ouvi com toda a atenção, como sempre faço em relação aos meus superiores hierárquicos – e o menino devia fazer o mesmo –, foram absolutamente claras: para todos os efeitos, quem faltou foi menos zeloso do que quem não faltou. Por isso, não quero saber da morte do seu avô nem do pé torcido nem da unha encravada. Vai ter menos um valor do que o Rui e ponto final.
6 comentários:
Há coisas que eu não entendo e esta NÃO é uma delas…
Esta proposta de avaliação da assiduidade, para o acesso ao concurso para a categoria de professor titular, não passa de um “osso” atirado pelo ministério aos sindicatos e comunicação social!!! É uma estratégia negocial digna de Sun Tzu na sua “Arte da Guerra”
Recordo a discussão em torno do novo estatuto da carreira docente:
O Ministério lança para o ar a proposta dos professores serem avaliados por pais e alunos. Proposta descabida, destinada a servir como tema de abertura de noticiários, captar a simpatia da opinião pública e funcionar como “osso negocial” para os sindicatos….
Com os pais a aplaudir a ministra por estar a “por no lugar” os professores, e face ás esperadas reivindicações dos sindicatos, o ministério recua (como previsto) neste pormenor deixando uma imagem de boa fé negocial. Contudo, o essencial da proposta mantém-se: a divisão da carreira em duas categorias com cotas para cada uma; o exame de ingresso na carreira; a observação de aulas e as taxas de insucesso e abandono como forma avaliação de desempenho; etc
Agora que cumpre regular o acesso à categoria de professor titular, lança-se mais uma proposta descabida que penaliza na assiduidade o docente que tenha mais de 9 faltas, sejam estas justificadas ou não. Esta proposta destina-se exclusivamente a deixar espaço para o ministério poder recuar em alguma coisa, com já fez relativamente ás licenças de maternidade, desviando as atenções do essencial: o fundamento economicista destas medidas que visão restringir o número de docentes no topo da carreira e onde o mérito só leva até à porta de um restaurante já apinhado, condenando o docente a aguardar que alguém saia para lhe ceder o lugar!
JooGoo
è óbvio que tem razão quando fala dos "ossos" atirados, mas não deixa de ser de lamentar o jogo sujo, a falta de boa fé nas negociações e propostas.
Depois de fazer o comentário anterior fiquei a pensar sobre o assunto e gostaria de fazer uma rectificação.
As técnicas negociais do ministério assemelham-se mais ao regatear marroquino do que às técnicas defendidas por Sun Tzu na “A Arte da Guerra”
JooGoo
Olha, Luz Clara.
Por mais que custe a entender a muita gente (nomeadamente a muitos professores deste país) a situação do Rui e do Jorge não são objectivamente iguais.
Se um por forças das circunstâncias e das vicissitudes da vida faltou às aulas - azar dele.
Mas objectivamente um foi mais assíduo que o outro. Essa ´a realidade dos factos.Indesmentível.
E pouca gente consegue ter a noção exacta do coneceito de assiduidade e das suas implicações práticas.
Eu concordo com o Senhor Secretario de Estado. Ao menos nesta matéria.
Disparate...
A avaliação deve evitar todas as formas de sorte ou azar. Não será?
A avaliação não evita (nem deverá evitar) todas as formas de sorte ou azar.
Para sorte de uns e azar de outros.
Ponto final.
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